Na última sexta-feira, estava de malas prontas pra estudar em Londrina, a 635km da minha casa. Tinha que pegar dois ônibus se quisesse ir pra casa e enfrentar 12 horas de viagem. Tinha a sensação de que estava indo pra outro planeta, perdendo a minha casa, a minha cidade, a minha família, a minha vida por completo. Estava angustiada e nostálgica. De repente senti uma imensa saudade da minha infância e da vida que eu deixaria pra trás. Fui a Londrina duas vezes pra prestar o vestibular e me encantei pela cidade. Mas algo me repelia dali, apesar de ter alguém especial que supostamente estaria à minha espera, mesmo com uma namorada. Meus dias eram então de agonia, nostalgia, tristeza. Por que? Por que não morar numa cidade linda, grande, com todos os bons recursos que pudesse oferecer? Eu tinha feito alguns amigos por lá e acabado transformando-os em um abrigo muito importante pra que eu pudesse aguentar firme longe de casa. Alguma coisa em mim dizia que eu não conseguiria ficar longe da minhã mãe, dos meus avós com quem eu morava já há 10 anos. Eu tinha medo, muito medo de ter outra crise igual a que tive quando fui fazer faculdade em Belo Horizonte, quando uma tristeza imensa me invadiu e me senti depressiva, travada e tendo que voltar pra casa. Tive medo de ter medo. Tão longe de casa e me sentir imobilizada. Até que naquela sexta-feira em que eu embarcaria, passei mal e tive uma crise aguda de ansiedade com características de pânico. Estava como próxima excedente na lista de espera em Psicologia na Federal de São Carlos e resolvi então deixar Londrina pra lá e esperar. Fomos a São Carlos na sexta-feira e me disseram que eu tinha grandes chances de ser chamada. Arrumamos uma pensão, não tão boa quanto a de Londrina. E isso me machuca um pouco. Me sinto culpada por ter deixado a linda cidade paranaense pra trás, uma pensão que ofereceria tudo pra minha estadia. Mas eu simplesmente não consegui ir. O meu corpo não quis. E às vezes me sinto machucada por não ter conseguido nem ao menos tentar. Me anima o fato de estar mais perto de casa e de ser o melhor curso de Psicologia do país, em São Carlos. Porém tenho medo também de viver com a culpa de não ter tentando algo bom. Estou tomando remédios antidepressivos pra enfrentar a nova fase da minha vida, sair de casa, fazer faculdade, mas quero também me livrar da culpa de não ter ido pra Londrina.
Eu sou uma joaninha, frágil, pequena, com o imenso anseio de desbravar o mundo e ir pra onde quer, mas com limitações físicas. Me sinto uma joaninha presa na armadura de quitina que a impede de crescer. Que não consegue ir muito longe de casa.
Eu simplesmente não consegui, embora quisesse. Eu queria muito ter conseguido. Muito.